Obras roubadas da Biblioteca Mário de Andrade podem valer até R$ 1 milhão, segundo especialistas; veja estimativas
Veja como ficou a Biblioteca Mário de Andrade momentos após roubo de obras de arte O valor estimado das 13 gravuras dos artistas Candido Portinari e Henri Mat...
Veja como ficou a Biblioteca Mário de Andrade momentos após roubo de obras de arte O valor estimado das 13 gravuras dos artistas Candido Portinari e Henri Matisse, roubadas da Biblioteca Mário de Andrade, no Centro de São Paulo, no último domingo (7), gira em torno de R$ 1 milhão, segundo especialistas ouvidos pelo g1. As obras pertenciam à exposição "Do livro ao museu: MAM São Paulo e a Biblioteca Mário de Andrade", que estava no seu último dia de exibição. Os valores do seguro das obras são sigilosos por contrato e não podem ser revelados, segundo Cauê Alves, curador-chefe do MAM. Já a Secretaria de Cultura ressaltou que as peças "possuem valor cultural, histórico e artístico, não sendo passíveis de mensuração exclusivamente econômica". O mercado de arte funciona como um ecossistema complexo, baseado em reputação, escassez, confiança, rede de contatos e negociação. Os preços não são regulados por uma tabela fixa, por isso os valores podem variar muito de uma galeria para outra, mesmo para obras do mesmo artista. Obras da exposição "Fotografia e vanguarda do MAM São Paulo", que foi alvo dos criminosos neste domingo (7), na Biblioteca Mário de Andrade. Reproduçã/Instagram Henri Matisse Entre as obras de destaque da exposição estava o livro Jazz, composto por 20 gravuras de Henri Matisse, um dos artistas mais influentes do modernismo. No último dia da mostra, os criminosos levaram oito delas: O palhaço, O circo, Senhor leal, O pesadelo do elefante branco, Os Codomas, O nadador no aquário, O engolidor de palavras e O cowboy. Segundo o museu, Matisse começou a produzir o livro em 1943, no auge da Segunda Guerra Mundial, quando o artista estava com a mobilidade reduzida após um diagnóstico de câncer. Por isso, ele passou a substituir a pintura pelos famosos recortes de papel colorido. Depois de finalizado o “livro matriz”, foram produzidas 270 edições por meio da técnica pochoir, todas supervisionadas pelo próprio artista. 🔎 A impressão pochoir é inteiramente artesanal: utiliza estênceis recortados, cada um correspondente a uma cor ou um detalhe. Sobre um desenho previamente impresso, o artesão aplica manualmente a tinta, camada por camada, o que resulta em imagens vibrantes, com textura e aspecto pictórico — tornando cada exemplar praticamente único. O relatório das obras subtraídas do acervo da biblioteca, da Prefeitura de São Paulo, aponta que os ladrões levaram o exemplar nº 102, assinado por Matisse. A perita em obras de arte da Associação dos Peritos Judiciais do Estado de São Paulo, Suzana Meyer Garcia, estima que cada gravura poderia ser vendida entre US$ 20 mil e US$ 40 mil, caso a obra estivesse completa (com as 20 gravuras). “Eu estimaria uns US$ 200 mil (cerca de R$ 1 milhão). Menos de US$ 20 mil não vale”, afirma. Ilustrado do livro "Jazz", de Henri Matisse, roubada da Biblioteca Mário de Andrade. Reprodução/Prefeitura de São Paulo Garcia reforçou que a técnica de impressão adotada é "bem sofisticada, caríssima, com uma tinta específica bem trabalhosa", diferente da impressão offset usualmente utilizada. “A gravura tem uma textura, porque a tinta guache tem bastante materialidade. Então são como se fosse mesmo a pintura original, não é uma estampa que fica plana”, explica. A pedido do g1, o sócio-diretor do Magalhães Gouvêa Leilões e consultor de arte, Ricardo Rinaldi, também avaliou as peças roubadas. Para ele, por conta da alta tiragem, cada gravura de Matisse valeria entre R$ 8 mil e R$ 10 mil — totalizando de R$ 64 mil a R$ 80 mil para o conjunto roubado. Candido Portinari Um das gravuras de Candido Portinari que ilustram o livro "Menino do Engenho", de José Lins do Rego. Reprodução/Prefeitura de São Paulo As cinco gravuras de Candido Portinari que foram levadas da Biblioteca Mário de Andrade pertenciam ao livro "Menino do Engenho", de José Lins do Rego, da Coleção Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil. Produzida entre 1946 e 1969, a série reúne 23 volumes de clássicos da literatura brasileira ilustrados por artistas como Machado de Assis, Jorge Amado e Mário de Andrade, todos lançados em tiragens limitadas e numeradas para os sócios. Diferentemente das obras de Matisse, as ilustrações de Portinari foram realizadas em gravura em metal, utilizando processos de água-forte e água-tinta. Segundo Suzana Meyer Garcia, cada uma delas é avaliada entre R$ 5 mil e R$ 10 mil — totalizando de R$ 25 mil a R$ 50 mil. Já o sócio-diretor do Magalhães Gouvêa Leilões estima valores um pouco maiores: de R$ 10 mil a R$ 12 mil por gravura, ou R$ 50 mil a R$ 60 mil no conjunto. O que diz a Secretaria da Cultura "A Secretaria Municipal da Cultura e Economia Criativa esclarece que obras de acervos públicos - como da mostra 'Do livro ao museu: MAM São Paulo e a Biblioteca Mário de Andrade' - possuem valor cultural, histórico e artístico, não sendo passíveis de mensuração exclusivamente econômica. Para fins administrativos e de gestão de risco, as obras contam com avaliação técnica e cobertura por apólice de seguro, conforme critérios de mercado e de preservação patrimonial. A Biblioteca dispõe de equipe de vigilância e sistema de câmeras de segurança, cujas imagens foram encaminhadas às autoridades competentes que conduzem as investigações. Foi identificada a subtração de oito gravuras de Henri Matisse e de cinco gravuras de Candido Portinari, da obra 'Menino de Engenho'. A Biblioteca Mário de Andrade segue com funcionamento normal." Como foi o roubo Exclusivo: vídeo mostra ladrões andando em rua do Centro de SP com obras roubadas Dois homens armados invadiram a biblioteca, na manhã de domingo, e renderam uma vigilante e um casal de idosos que visitava a exposição. Em seguida, eles fugiram com 13 gravuras de Henri Matisse e de Candido Portinari em uma sacola de lona. Um dos ladrões, Felipe dos Santos Fernandes Quadra, de 31 anos, foi preso nesta segunda-feira (8), em uma casa na Mooca, na Zona Leste da capital. Segundo a polícia, ele tem antecedentes criminais por furto, roubo e tráfico de drogas. O outro criminoso, que também já foi identificado pela polícia, segue foragido. A polícia não divulgou o nome desse suspeito. A identificação aconteceu com a ajuda de câmeras de vigilância do Smart Sampa, sistema de câmeras da prefeitura, que flagraram a dupla andando com as obras roubadas na manhã do domingo (7). A Prefeitura de SP também acionou a Polícia Internacional (Interpol), por meio da Polícia Federal, para impedir que as obras roubadas saiam do país. Vídeos mostram criminosos Os vídeos do sistema SmartSampa mostram o momento em que os ladrões caminham pela Rua João Adolfo carregando algumas obras (veja abaixo). Nas imagens, que foram obtidas com exclusividade pela TV Globo, é possível ver que uma van azul estaciona na rua às 10h43. Um homem desce do veículo e segue pela calçada. Outro homem também desce do veículo e vai na mesma direção. O destino para onde ambos foram não aparece. Um minuto depois, eles retornam para o veículo. Um deles, de camiseta clara, aparece retirando duas telas da van e caminhando com elas pela calçada. O outro ainda fica no veículo, mas também sai com um papel nas mãos. Polícia de SP identifica os dois ladrões que roubaram as obras de arte da Biblioteca Mário de Andrade, no Centro de SP. Montagem/g1/Reprodução/TV Globo Valor do seguro é sigiloso e não pode ser revelado, diz curador-chefe do MAM Já em outro ângulo, é possível ver que o homem de camiseta clara deixou três telas encostadas no muro de uma calçada no cruzamento da Rua João Adolfo com a Rua Alfredo Gagliotti. Depois, ele corre e atravessa a rua. Ainda não se sabe se outra pessoa retirou as obras do local ou se os ladrões as pegaram novamente. Até a última atualização desta reportagem, as obras não haviam sido encontradas. Obras roubadas da Biblioteca Mário de Andrade Acervo pessoal Biblioteca Mário de Andrade Mantida pela gestão municipal, a Biblioteca Mário de Andrade é a segunda maior biblioteca do país e a maior biblioteca pública da cidade de São Paulo. Ela completou 100 anos em fevereiro e, no ano passado, recebeu mais de 207 mil pessoas. Chamada antes apenas de biblioteca municipal, ela recebeu o nome do escritor Mário de Andrade em 1960. Cidade de SP tem menos de uma biblioteca por 100 mil habitantes